quarta-feira, 26 de março de 2025

O Transtorno Bipolar na minha vida - Relato pessoal



Como alguém que vive com Transtorno Afetivo Bipolar há mais de 10 anos, sei bem como é viver em uma montanha-russa emocional. Há momentos em que tudo parece vibrante, cheio de energia e possibilidades, e outros em que a escuridão toma conta, tornando as tarefas mais simples desafios imensos.

Mesmo que na maior parte do tempo estejamos estável, com acompanhamento adequado, lidar com esses extremos é desgastante não só para a pessoa com TAB, mas também para as pessoas ao redor.

Entender os gatilhos para a fase maníaca (ou hipomaníaca) ou depressiva e ter um plano para lidar com a situação é essencial para controlar os possíveis danos de ações durante essas fases.


Quando eu soube que tinha TAB?

No fundo, quando se trata de saúde mental, sempre sabemos quando algo não deveria estar acontecendo, não é mesmo? Seja a nossa própria percepção do que seria “normal” ou como as pessoas ao nosso redor reagem às nossas ações.

O TAB mostrou os primeiros sinais ainda na minha adolescência, no primeiro ano do ensino médio. Porém achávamos que era depressão porque os sintomas mais proeminentes eram o choro e a tristeza que surgia “do nada”. A irritabilidade só foi ser vista como um sintoma quando eu fui diagnosticada com transtorno bipolar.

Eu chorava muito e não entendia a razão, porque tudo era motivo. Era um pessimismo, uma angústia, uma sensação de desesperança difícil para uma adolescente lidar e entender. E mesmo com tudo isso, não iniciei o tratamento e segui a vida entre choros e ataques de raiva.


Hipomania, fase mista e depressiva

Nunca cheguei a ter a fase maníaca. É sempre a hipomania ou a fase mista ou a depressiva. A fase mista era a que mais predominava antes das medicações. Estava sempre irritada e cansada. Era grossa, mas me dizia apenas sincera demais. Não sabia medir as palavras e acabava por magoar pessoas próximas.

Não gosto de colocar a culpa na doença, mas é nítido a diferença de personalidade entre o período instável e o agora. Controlo mais o que sai da minha boca e estou bem mais tranquila.

Mas até chegar ao eu de hoje, perdi amizades pelo caminho, afinal, não é dever de ninguém aguentar uma pessoa volátil. Não só por isso, mas também me vi muitas vezes apática em relação aos sentimentos dos outros.


Gatilho e Projetos que nunca são finalizados

O maior gatilho que enfrento atualmente é a frustração. Sentir-me frustrada por tentar algo, ou por querer mas não poder é o que mais me puxa para baixo. E por estar embaixo é que surge a vontade de subir, então engatilha uma fase de hipomania fazendo com que comece projetos -mas nunca os termino. Isso, projetos nunca terminados.

Um livro em conjunto com as amigas? Engavetado. Fazer bordados em ponto russo? Um dia eu começo. Pintura em tecido? Vamos parar e iniciar curso de desenho. Natação? Um dia eu volto. Faculdade? Vamos trancar pois sabemos que não dou conta mais.

Agora estou fazendo Desenho e mesmo sendo algo que eu queira muito, me pego adiando fazer os exercícios. Desenho, assim como tudo, precisa de prática e estudo para ficar bom. E constância não é o forte de um bipolar.


Consigo viver uma vida normal hoje?

Não. Eu vivo estável quando se trata de humor, mas não me vejo capaz de trabalhar no momento. Passei a maior parte da vida adulta na faculdade, não adquiri experiência e bem sabemos o ambiente de trabalho, o que desencadearia episódios e me esgotaria mentalmente. A faculdade por si só já foi um peso enorme nas costas.

Não estou dizendo que vou viver o resto da vida escorada, dependendo de alguém. Esse assunto é o que mais me frustra e acredito que não só a mim. Você que tá lendo, se é que tem alguém lendo, sabe que fazer as coisas mais simples é um esforço enorme para o bipolar.


Tenho planos para o futuro?

Tenho planos, sim. Mas ainda é cedo para dizer se consigo concluir ou será mais um projeto abandonado. Até lá sigo escrevendo aqui para quem quiser ler. Ou para mim mesma, já que é uma terapia escrever.

Se você chegou até aqui, te indico uma música que me acompanhou nesse finalzinho de artigo: Paramore - The Only Exception