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quarta-feira, 9 de julho de 2025

Quando a Maternidade Não Cabe: O Peso da Bipolaridade nas Minhas Decisões

É comum que, ao longo dos anos, nós vamos mudando de opiniões e crenças. Não por sermos facilmente influenciáveis e sim porque vamos nos expondo a diferentes cenários e pessoas e tendemos a concordar com aquilo que faz mais sentido.

Hoje quero compartilhar a minha mudança de visão de mundo durante os anos em relação à gravidez e filhos, e porque isso está ligado ao transtorno bipolar.


Agora, no último dia 25 de junho, fiz 31 anos e me peguei pensando sobre uma cena que ocorreu quando tinha 13~14 anos. Estava no intervalo da aula conversando com duas amigas. Estávamos falando sobre o que queríamos para o nosso futuro e lembro que eu disse que queria estar casada e ter dois filhos, uma menina e um menino.


Naquela época eu realmente não pensava no porque eu queria isso, era só o que era esperado de mim e eu sentia a necessidade de cumprir. Não lembro exatamente quando mudei de opinião, mas aconteceu e sei que a bipolaridade teve um papel crucial nessa mudança.


Conforme eu ficava mais velha, eu fui me afastando um pouco desse ideal de engravidar e ter filhos, nada concreto, mas a semente já estava plantada. A cada notícia que saia do que acontecia com o mundo, eu fui ficando mais e mais pessimista com o futuro e não desejava colocar uma criança no mundo sem a garantia que ela ficaria bem no futuro.


Mas tá, como a bipolaridade entra na história?


Quando eu finalmente tive o diagnóstico eu entendi que mesmo que meu filho tivesse um lugar no mundo, ele não teria um dentro de casa. Como assim? Nós bipolares somos instáveis e isso se mostra na criação da criança. Como podemos lidar com outra vida se mal damos conta da nossa? Especialmente aqueles que mesmo medicados, têm recaídas brutas.


Não apenas isso, mas como seria durante a gravidez e a fase de amamentação, onde os remédios não são indicados? O que me garante que não vou entrar em surto? Nada, eu não tenho garantia de nada.


A muitas histórias de filhos e filhas que tem um dos pais bipolar e sofreram a infância e adolescência com os altos e baixos, os surtos e a depressão do(a) pai/mãe. Além de que, bipolaridade é uma condição genética, ou seja, pode ser transmitida para a criança.


Contar para vocês um caso que fiquei sabendo, de uma mulher bipolar já com 3 filhos. Ela ficou grávida de novo e acabou perdendo a criança, não voltou com a medicação e teve que ser internada. E essa não foi a primeira vez que ela teve que ser internada. Vocês conseguem imaginar como é ter uma mãe com quem você não pode contar? Não estou dizendo que ela é uma péssima mãe, mas certamente essas crianças não vão crescer num ambiente saudável.


É essa a vida que eu quero para meu filho? Por quê? Por um egoísmo meu?

Não, minha doença termina comigo.



quarta-feira, 7 de maio de 2025

Bipolaridade e relacionamentos: como afeta quem está ao redor - Relato pessoal



Viver com bipolaridade é, muitas vezes, viver num mundo interno instável e intenso. Porém, isso afeta não somente o bipolar, mas também as pessoas ao redor. Parceiros(as), familiares, amigos, colegas de trabalho também são afetados, em diferentes graus, as oscilações de humor e comportamento desta condição.

Já comentei que na minha adolescência eu vivia uma angústia e chorava sempre. Isso acontecia, geralmente, durante a aula. Eu estudei o ensino médio num colégio de tempo integral, ou seja, manhã e tarde, portanto passava mais tempo estudando do que em casa durante a semana.


Durante esses três anos, muitas vezes eu começava a chorar do nada e por consequência isso mobilizava meus colegas de classe e professores. Todos eram muito solidários comigo, acho que entendiam que eu não fazia para chamar atenção, ou pelo menos nunca demonstraram algo contrário. Sou grata por sempre terem me acolhido.


Quando saí do ensino médio, as crises de choro diminuíram e abriram espaço a uma eu estressada e cansada o tempo todo. Chegava da faculdade e me trancava no quarto, não queria falar com ninguém de casa, só com as pessoas que conhecia na internet e nem sempre estava de bom humor para lidar com eles também. Na verdade, nunca parecia que eu estava bem.


Quando minha mãe foi demitida e voltou a morar comigo e minha avó, nós duas dificilmente entrávamos em um acordo, estávamos sempre em conflito. Depois que iniciei o tratamento para bipolaridade, as coisas começaram a se acalmar, porém vez ou outra eu ainda dava uma resposta atravessada quando tava em dias poucos amigáveis. 


Nos primeiros meses do meu atual namoro também houve momentos em que meu humor oscilava, eu descontava sem querer no meu namorado. Eram coisas como ele falar algo inofensivo e eu interpretar de maneira agressiva ou chorosa.


Cansaço emocional e medo constante


Hoje que estou menos instável, sei que eram situações que não precisava virar algo maior, mas na hora nosso julgamento fica nublado. Cada vez que eu tratava alguém mal, ou que me sentia mal por algo que aconteceu devido as minhas mudanças de humor, eu sabia que tinha algo de errado, pois não acontecia dentro do meu controle.


Nós vivemos esse medo de que as pessoas vão se cansar de nós e que somos um estorvo. Lembro-me de me perguntar se aquilo era quem eu realmente era, se fazia parte da minha personalidade.


Conclusão


Relações saudáveis são possíveis, mesmo com o transtorno bipolar em cena. Mas para isso é preciso entendimento mútuo, boa comunicação e tratamento adequado.



Música de hoje: ANAVITÓRIA - Agora Eu Quero Ir

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Diagnóstico e caminho para estabilidade - Relato pessoal



Em junho de 2017 comecei a ter uma crise depressiva profunda que quase me fez perder o semestre todo da faculdade. Consegui finalizar e como já estava “acostumada” com a fase depressiva (mesmo eu não sabendo ainda do diagnóstico de bipolaridade), achei que logo as coisas iam se acalmar e ia voltar ao “normal”.

Mas desta vez não acalmou. Passei o período de férias chorando todo dia, me sentindo um peso para minha família e uma vontade enorme de só desaparecer. E então um novo semestre começou e eu mesmo assim insisti em continuar. Achava que ia aguentar, uma hora ia passar. Sempre passava, por que agora seria diferente?


Conforme os dias passavam, mais difícil ficava de levantar e ir para a aula. Mais difícil era prestar atenção e fazer os exercícios que os professores passavam. Até que numa noite, em uma tentativa de pedir ajuda, eu saí do meu quarto aos prantos em busca da minha mãe. Precisava que ela me acalmasse, que fosse minha luz no fim do túnel. E como uma boa mãe ela me acolheu.


Decidimos procurar um psiquiatra. Contei tudo o que sentia desde a adolescência e foi quando ele me diagnosticou com transtorno bipolar. Receitou o famoso lítio e não me recordo se passou algum medicamento para depressão (me deem um desconto, faz muitos anos).


Bom, até aí tudo bem, né? Eu finalmente sabia que o que eu sentia tinha nome, que não era preguiça, má vontade ou qualquer outra coisa. Sim, tudo bem até eu pedir um atestado para trancar a faculdade. Esse homem, meus caros leitores, esse homem só faltou me xingar e xingar até a oitava geração da minha família. Tratou como frescura e só deu o atestado porque insisti. Não sabia que era possível você se especializar em algo e simplesmente negar o que seu paciente sente.


Nesse momento, minha mãe decidiu me colocar num plano de saúde. Tive que esperar pouco mais de um mês para minha primeira consulta com o novo psiquiatra, mas finalmente consegui. Esse novo médico era bem diferente do primeiro, começando que ele parou de verdade para me ouvir e quando soube que o anterior não passou o exame de lítio e ainda me tratou daquele jeito quis denunciá-lo, o que não foi possível pois eu não tinha mais o CRM (nem sabia o que era isso).


Bom, ele receitou o lítio, o exame de lítio (que agora eu sabia que precisava fazer) e mais um remédio para depressão e um tempo depois um para insônia também. Consegui “normalizar” depois de algum tempo. Infelizmente depois de uns bons meses, eu não consegui me adaptar completamente ao lítio, pois precisava tomar quatro comprimidos por dia e isso estava me fazendo mal.


Trocamos o lítio por um outro lançado a pouco tempo no mercado chamado Latuda. Isso foi na segunda metade de 2018 e segui com esse novo medicamento até início de 2020, quando precisei parar pois desenvolvi reação ao medicamento. Nisso a pandemia estourou e minha consulta foi cancelada. Só depois de meses consegui uma nova consulta, mas infelizmente o psiquiatra com quem me consultava deixou a clínica.


Só fui a uma consulta com esse novo médico e o detestei. Atendia rápido, parecia não escutar o que eu dizia. Falei que não queria lítio e ele me passou justamente ele. Decidi tentar outro e foi a mesma coisa e pior: Quando precisei pegar uma nova receita, me tratou mal.


Depois disso precisei encerrar o plano de saúde, já que na época passamos por um momento financeiro delicado. Meses depois consegui consulta na rede pública daqui da minha cidade e estou nela até hoje.


O primeiro psiquiatra passou lítio também (nesse momento eu só desisti que não ia ser ouvida), até ele sair e entrar a médica atual. Depois que meu exame de tireóide deu alterado, ela decidiu FINALMENTE trocar o lítio. Depois perguntou se eu queria voltar para ele, mas eu respondi que não e que me sinto muito melhor com ele.


E é verdade, sou outra pessoa com esse novo medicamento. Sinto-me muito mais estável, mais no controle. Mas isso é papo para outro artigo.


Conclusão


Receber o diagnóstico me trouxe alívio, eu finalmente tinha um nome e tratamento para o que sentia. Embora o caminho não tenha sido tão fácil, foi um período de autoconhecimento e continua o sendo. Hoje entendo muito mais sobre mim do que há oito anos. Também tenho muito o que agradecer àqueles que ficaram ao meu lado.


Ainda há muito o que se viver, mas um passo de cada vez.



Música de hoje: Sandy part. Tiago Iorc - Me Espera


quarta-feira, 2 de abril de 2025

As amizades perdidas pelo caminho - Relato pessoal



Todos nós já falamos ou fizemos coisas em que bateu o arrependimento, de imediato ou não. Seja porque um dia você não está bem ou só a falta de maturidade em perceber que algo que você fazia/faz machuca o outro.


Hoje quero falar de dois casos onde perdi amizades por impulsividade e falta de tato. É importante notar que nos dois casos eu não fazia tratamento e nem sabia que tinha o transtorno bipolar e, portanto, vivia de maneira instável


Isso, claro, não me exime da culpa de que fui eu que causei as situações.


Carlos


Eu tinha esse bom amigo, que vamos chamá-lo de Carlos, o qual o via como um irmão mais novo. O conheci online, em um joguinho para computador muito famoso na época. Ele morava no mesmo estado que eu, mas como éramos muito jovens só fomos nos encontrar uma vez quando já tínhamos um tempo de amizade.


Carlos era um jovem muito tranquilo e engraçado. Conversávamos diariamente sobre muitas coisas. Também tínhamos amigos em comum, então a conversa também girava em torno deles.


Certo dia eu estava muito estressada sem motivo, provavelmente numa fase mista. Estava dando respostas ríspidas, enquanto Carlos só queria bater o mesmo papo de sempre. Numa dessas ele me pergunta “Qual o seu problema?”. Não pensei duas vezes, não medi as palavras e apenas soltei um “Gente como você”.


Bem, agora vocês estão pensando que, independente se foi culpa do TAB ou não, eu mereci o fim da amizade. Sim, eu sei, estou totalmente ciente e concordo plenamente. A impulsividade é uma faca de dois gumes: Pode dar muito certo ou muito errado. Mas olhando agora do presente eu não me arrependo de ter acabado, e sim de como acabou. Carlos e eu seguimos com visões de mundo diferentes, estávamos fadados ao distanciamento e talvez tenha sido melhor assim.


O mesmo não pode ser dito sobre o Alan.


Alan


Também conheci o Alan (nome fictício) em um jogo através de um amigo em comum. Desde o começo sempre foi meio conturbado nossa relação. Isso porque eu, como já deve ter dado para perceber, não tinha muita responsabilidade emocional, tampouco o dava o devido respeito que nossa relação pedia.


Eu estava acostumada com amigos que riam e não se importavam com meio jeito meio grosseiro. Mas Alan era diferente, era um menino sensível e não parecia entender que eu não falava para machucá-lo e sim porque era o meu jeito mesmo.


Quando há duas pessoas com personalidades tão diferentes, concessões precisam acontecer para que as coisas fiquem equilibradas e fluam.


E não aconteceu.


Alan ficou cansado e com razão. No lugar dele também ficaria. Não sei como ele está hoje em dia, mas imagino que bem já que não ouvi nada do nosso amigo em comum.


Diferente do caso do Carlos, eu gostaria de ter um momento propício para um pedido de desculpas ao Alan. Não que eu ache que não devo desculpas ao Carlos, é só que no caso dele não há o que fazer, nossas diferenças vão muito além de um assunto mal acabado de 11 anos atrás.


Carlos e Alan nunca vão ler esse texto e talvez até já tenham esquecido sobre essas situações passadas. E assim seguiremos e talvez um dia nos encontremos. Mas esse dia não é hoje.




Música que me acompanhou nesse finalzinho: Ely Eira - Monster


quarta-feira, 26 de março de 2025

O Transtorno Bipolar na minha vida - Relato pessoal



Como alguém que vive com Transtorno Afetivo Bipolar há mais de 10 anos, sei bem como é viver em uma montanha-russa emocional. Há momentos em que tudo parece vibrante, cheio de energia e possibilidades, e outros em que a escuridão toma conta, tornando as tarefas mais simples desafios imensos.

Mesmo que na maior parte do tempo estejamos estável, com acompanhamento adequado, lidar com esses extremos é desgastante não só para a pessoa com TAB, mas também para as pessoas ao redor.

Entender os gatilhos para a fase maníaca (ou hipomaníaca) ou depressiva e ter um plano para lidar com a situação é essencial para controlar os possíveis danos de ações durante essas fases.


Quando eu soube que tinha TAB?

No fundo, quando se trata de saúde mental, sempre sabemos quando algo não deveria estar acontecendo, não é mesmo? Seja a nossa própria percepção do que seria “normal” ou como as pessoas ao nosso redor reagem às nossas ações.

O TAB mostrou os primeiros sinais ainda na minha adolescência, no primeiro ano do ensino médio. Porém achávamos que era depressão porque os sintomas mais proeminentes eram o choro e a tristeza que surgia “do nada”. A irritabilidade só foi ser vista como um sintoma quando eu fui diagnosticada com transtorno bipolar.

Eu chorava muito e não entendia a razão, porque tudo era motivo. Era um pessimismo, uma angústia, uma sensação de desesperança difícil para uma adolescente lidar e entender. E mesmo com tudo isso, não iniciei o tratamento e segui a vida entre choros e ataques de raiva.


Hipomania, fase mista e depressiva

Nunca cheguei a ter a fase maníaca. É sempre a hipomania ou a fase mista ou a depressiva. A fase mista era a que mais predominava antes das medicações. Estava sempre irritada e cansada. Era grossa, mas me dizia apenas sincera demais. Não sabia medir as palavras e acabava por magoar pessoas próximas.

Não gosto de colocar a culpa na doença, mas é nítido a diferença de personalidade entre o período instável e o agora. Controlo mais o que sai da minha boca e estou bem mais tranquila.

Mas até chegar ao eu de hoje, perdi amizades pelo caminho, afinal, não é dever de ninguém aguentar uma pessoa volátil. Não só por isso, mas também me vi muitas vezes apática em relação aos sentimentos dos outros.


Gatilho e Projetos que nunca são finalizados

O maior gatilho que enfrento atualmente é a frustração. Sentir-me frustrada por tentar algo, ou por querer mas não poder é o que mais me puxa para baixo. E por estar embaixo é que surge a vontade de subir, então engatilha uma fase de hipomania fazendo com que comece projetos -mas nunca os termino. Isso, projetos nunca terminados.

Um livro em conjunto com as amigas? Engavetado. Fazer bordados em ponto russo? Um dia eu começo. Pintura em tecido? Vamos parar e iniciar curso de desenho. Natação? Um dia eu volto. Faculdade? Vamos trancar pois sabemos que não dou conta mais.

Agora estou fazendo Desenho e mesmo sendo algo que eu queira muito, me pego adiando fazer os exercícios. Desenho, assim como tudo, precisa de prática e estudo para ficar bom. E constância não é o forte de um bipolar.


Consigo viver uma vida normal hoje?

Não. Eu vivo estável quando se trata de humor, mas não me vejo capaz de trabalhar no momento. Passei a maior parte da vida adulta na faculdade, não adquiri experiência e bem sabemos o ambiente de trabalho, o que desencadearia episódios e me esgotaria mentalmente. A faculdade por si só já foi um peso enorme nas costas.

Não estou dizendo que vou viver o resto da vida escorada, dependendo de alguém. Esse assunto é o que mais me frustra e acredito que não só a mim. Você que tá lendo, se é que tem alguém lendo, sabe que fazer as coisas mais simples é um esforço enorme para o bipolar.


Tenho planos para o futuro?

Tenho planos, sim. Mas ainda é cedo para dizer se consigo concluir ou será mais um projeto abandonado. Até lá sigo escrevendo aqui para quem quiser ler. Ou para mim mesma, já que é uma terapia escrever.

Se você chegou até aqui, te indico uma música que me acompanhou nesse finalzinho de artigo: Paramore - The Only Exception