É comum que, ao longo dos anos, nós vamos mudando de opiniões e crenças. Não por sermos facilmente influenciáveis e sim porque vamos nos expondo a diferentes cenários e pessoas e tendemos a concordar com aquilo que faz mais sentido.
Hoje quero compartilhar a minha mudança de visão de mundo durante os anos em relação à gravidez e filhos, e porque isso está ligado ao transtorno bipolar.
Agora, no último dia 25 de junho, fiz 31 anos e me peguei pensando sobre uma cena que ocorreu quando tinha 13~14 anos. Estava no intervalo da aula conversando com duas amigas. Estávamos falando sobre o que queríamos para o nosso futuro e lembro que eu disse que queria estar casada e ter dois filhos, uma menina e um menino.
Naquela época eu realmente não pensava no porque eu queria isso, era só o que era esperado de mim e eu sentia a necessidade de cumprir. Não lembro exatamente quando mudei de opinião, mas aconteceu e sei que a bipolaridade teve um papel crucial nessa mudança.
Conforme eu ficava mais velha, eu fui me afastando um pouco desse ideal de engravidar e ter filhos, nada concreto, mas a semente já estava plantada. A cada notícia que saia do que acontecia com o mundo, eu fui ficando mais e mais pessimista com o futuro e não desejava colocar uma criança no mundo sem a garantia que ela ficaria bem no futuro.
Mas tá, como a bipolaridade entra na história?
Quando eu finalmente tive o diagnóstico eu entendi que mesmo que meu filho tivesse um lugar no mundo, ele não teria um dentro de casa. Como assim? Nós bipolares somos instáveis e isso se mostra na criação da criança. Como podemos lidar com outra vida se mal damos conta da nossa? Especialmente aqueles que mesmo medicados, têm recaídas brutas.
Não apenas isso, mas como seria durante a gravidez e a fase de amamentação, onde os remédios não são indicados? O que me garante que não vou entrar em surto? Nada, eu não tenho garantia de nada.
A muitas histórias de filhos e filhas que tem um dos pais bipolar e sofreram a infância e adolescência com os altos e baixos, os surtos e a depressão do(a) pai/mãe. Além de que, bipolaridade é uma condição genética, ou seja, pode ser transmitida para a criança.
Contar para vocês um caso que fiquei sabendo, de uma mulher bipolar já com 3 filhos. Ela ficou grávida de novo e acabou perdendo a criança, não voltou com a medicação e teve que ser internada. E essa não foi a primeira vez que ela teve que ser internada. Vocês conseguem imaginar como é ter uma mãe com quem você não pode contar? Não estou dizendo que ela é uma péssima mãe, mas certamente essas crianças não vão crescer num ambiente saudável.
É essa a vida que eu quero para meu filho? Por quê? Por um egoísmo meu?
Não, minha doença termina comigo.



