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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Obesidade e Transtorno Bipolar: Uma batalha invisível - Relato pessoal



Falar sobre transtorno bipolar já não é simples, somando ao tema obesidade, torna-se ainda mais complicado. Mas é importante para mim falar, porque talvez você esteja vivendo o mesmo que eu.

Quando recebi meu diagnóstico do TB, eu não imaginei que eu teria outra batalha, que teria que conviver com a constante mudança do meu corpo. Demorei até entender que as duas coisas poderiam estar ligadas.


Remédios que ajudam, mas também pesam (literalmente)


Ao iniciar o tratamento, precisei fazer uso de estabilizadores de humor e antidepressivos. Até aí tudo bem, até que as roupas foram deixando de servir gradualmente. Isso porque alguns dos remédios que tomo/tomei alteram o metabolismo(que, diga-se de passagem, já não era tão bom). O boom de peso aconteceu mesmo de mais ou menos três anos para cá e daí foi só ladeira abaixo.


Comer para aliviar, se culpar depois


É muito comum nas fases depressivas comer para aliviar o estresse, ou porque é menos cansativo pegar algo pronto para comer (ex. biscoito e bolacha). Também a busca por microdoses de prazer é frequente (doces e massas).


Já falei aqui que minha fase predominante é a depressiva, então imaginem, eu nesse ciclo sem fim de comer muito produto industrializado, o que isso não fez com meu corpo.


E a culpa, afinal ainda estamos conscientes que o caminho que estamos tomando não é o melhor. A culpa só contribui para abaixar a nossa já então baixa autoestima, tornando-se difícil sair da fase depressiva.

Um ciclo difícil de quebrar

O problema é que ganhar peso não é só uma questão estética, é saúde física e mental. A autoestima despenca, o cansaço aumenta, a disposição some. Porém, não há como manter isso para sempre. Uma hora precisamos quebrar o ciclo ou ele vai nos quebrar.

Atualmente estou tentando me cuidar melhor, mas não é fácil manter uma rotina saudável, exercitar o corpo mesmo que de leve, só para não ficar parado. Você e eu não somos preguiçosos, fracos, desleixados. Estamos apenas tentando conciliar uma mente que nos trai com o jeito que nosso corpo achou para responder a isso.


Música de hoje: Cyn - I’ll Still Have Me


quarta-feira, 21 de maio de 2025

Você sabia que o cérebro do bipolar é diferente?



Um estudo de 2023 analisou diversos artigos a fim de entender a neurobiologia do cérebro bipolar e as evidências mostram que, sim, o cérebro bipolar é mesmo diferente do de uma pessoa sem o transtorno.

Eu li o estudo e vou pontuar as principais evidências e conclusões que corroboram com a afirmação.



Perfil Neuroquímico


O perfil neuroquímico se refere a um conjunto complexo de alterações de neurotransmissores, substâncias químicas produzidas pelos neurônios, que regulam o humor. No caso do TB, esse perfil é composto pela serotonina, dopamina e noradrenalina. Vamos entender o que cada um faz no cérebro bipolar.


  1. Serotonina

Desempenha um papel essencial de regulação do humor. Sugere-se que o desequilíbrio nos níveis está associado às variações de humor vistas no transtorno bipolar. Baixos níveis estão associados a episódios depressivos, enquanto flutuações a episódios maníacos.


  1. Dopamina

Implicada na sensação de recompensa, motivação e regulação do prazer. A dopamina pode estar associada às manifestações de episódios maníacos Níveis elevados podem contribuir para a euforia característica desses episódios.

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  1. Noradrenalina

Papel vital na resposta ao estresse e na regulação da energia. Variações podem influenciar na regulação do sono, agitação e intensidade dos episódios, tanto nas fases depressivas, quanto nas maníacas.



Contribuições Genéticas


É uma área de intenso estudo e muito importante para compreender a neurobiologia do TB. “A neurobiologia é complexa e multifatorial, envolvendo uma interação complexa entre múltiplos genes e fatores ambientais. A combinação de diferentes variantes genéticas contribui para a diversidade de apresentações clínicas e respostas ao tratamento observadas nos indivíduos afetados.” — Diz o estudo.


Hereditariedade


Estudos sugerem fortemente a hereditariedade do transtorno. Indivíduos que têm parentes de primeiro grau com o transtorno têm um risco significativamente maior de desenvolvê-lo.

A realização de Estudos de associação genômica ampla (GWAS) permitiram examinar variantes genéticas em grandes populações, identificando diversos loci genéticos relacionados ao transtorno. Essas descobertas fornecem pistas sobre quais genes podem desempenhar um papel na genética bipolar, embora a função exata desses genes ainda precise ser totalmente compreendida.


Alterações Neuroanatômicas do Transtorno Bipolar


Estudos neuroanatômicos revelam alterações em diversas regiões cerebrais em indivíduos bipolares.


  1. Hipocampo

Essencial para memória e regulação emocional, revela reduções volumétricas, associadas a déficits na regulação do humor;

  1. Amígdala

Ligada às respostas emocionais, demonstra aumento de volume, correlacionando-se a intensidade de episódios maníacos e depressivos;

  1. Córtex pré-frontal

Associado ao controle inibitório e tomada de decisões, exibe reduções volumétricas;

  1. Anomalias na substância branca cerebral, alterações nos núcleos subcorticais (corpo caudado e putâmen) enfocam as disfunções na conectividade neural e na regulação do movimento e recompensa.



Correlações com Transtornos e Outras Comorbidades


Há uma interconexão entre o transtorno bipolar e outras comorbidades, ou seja, o bipolar não necessariamente só tem o transtorno afetivo bipolar, como pode ter outros transtornos e comorbidades.


Podem ser elas: Transtorno de ansiedade, outros transtornos de humor (ex: depressão unipolar), Transtorno do Espectro Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Controle dos Impulsos (ex:TDAH e transtorno de personalidade borderline), Doenças cardiovasculares e Substâncias e Abuso de Álcool.


A relação entre o transtorno e essas comorbidades indicam a necessidade de abordagens personalizadas que considerem a singularidade de cada indivíduo. A busca contínua pela compreensão é essencial para refinar abordagens terapêuticas, melhorar cuidados e qualidade de vida.



Papel dos Hormônios no Transtorno Bipolar


Estudos indicam que a regulação anormal do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), uma área do cérebro responsável pela liberação do hormônio cortisol, que é associado ao estresse, pode desempenhar um papel de vulnerabilidade ao TB.


A resposta do HPA a eventos estressantes pode ser exacerbada no indivíduo bipolar, levando a flutuações no nível do cortisol, afetando a instabilidade emocional.


Há um interesse crescente em saber como os hormônios sexuais estrogênio e testosterona influenciam o transtorno bipolar. Em mulheres, as variações hormonais ao longo do ciclo menstrual foram relacionadas a mudanças nos padrões de episódios.



Microbioma Intestinal e Cérebro


É conhecido que há uma relação complexa entre o microbioma intestinal e o cérebro, chamado de eixo intestino-cérebro. A disbiose, que representa um desequilíbrio no microbioma, é um fator de interesse. A interação complexa pode alterar a neuroquímica cerebral, em particular a serotonina e dopamina.


A manipulação do microbioma representa um campo emocionante e inovador, no entanto é preciso cautela e mais pesquisas para melhor compreensão da relação.



Conclusão


É notável que o nosso corpo é diferente de outros indivíduos sem o transtorno bipolar e isso se deve a uma complexa relação da nossa biologia, desde neurotransmissores, a genes, hormônios e microbioma intestinal.


Não coloquei todos os pontos abordados no estudo, apenas o que se faz mais fácil de compreender. O estudo por si só vale uma lida completa e se aprofunda muito mais na neurobiologia do transtorno bipolar para quem quiser saber mais. Deixarei abaixo o link para o estudo.


Link para o estudo (basta clicar na opção PDF para baixar o artigo): https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/1166

quarta-feira, 14 de maio de 2025

A importância do sono para quem tem bipolaridade



Se existe algo que parece simples, mas que pode mudar completamente o curso de um dia, ou de uma crise, para quem tem transtorno bipolar, esse algo é o sono. Dormir bem não é apenas um hábito saudável, é uma parte fundamental do cuidado com a saúde mental, especialmente para quem vive com os altos e baixos da bipolaridade.

Sono e humor: uma ligação direta

Muitas pessoas subestimam o poder que uma noite mal dormida pode ter. Mas para quem tem transtorno bipolar, alterações no sono são um dos principais gatilhos para episódios de mania, hipomania ou depressão.

Durante a mania, é comum a pessoa sentir que precisa de poucas horas de sono ou nem dormir. Já na fase depressiva, o oposto pode acontecer: dormir demais, mas sem qualidade, ou ter insônia severa. Em ambos os casos, o desequilíbrio do sono piora o estado emocional.

Ficar acordado por muito tempo, inverter o ciclo do sono ou ter noites repetidas de sono ruim pode, em pessoas com bipolaridade, provocar ou intensificar episódios maníacos ou hipomaníacos. Isso porque a falta de descanso afeta diretamente áreas do cérebro responsáveis pela regulação das emoções, do julgamento e da impulsividade.

Muitas vezes, uma pessoa está estável há meses, mas uma sequência de noites mal dormidas, associada a estresse ou uso de substâncias, pode ser o suficiente para desencadear uma nova crise.

Sono regular é parte do tratamento

Estabelecer uma rotina de sono consistente não é um capricho, é uma necessidade terapêutica. Psiquiatras e psicólogos frequentemente recomendam horários fixos para dormir e acordar, ambientes calmos antes de dormir e até práticas de higiene do sono como parte do plano de estabilização.

Algumas orientações básicas são:

  • Evitar telas (celular, TV, computador) pelo menos 1 hora antes de dormir.

  • Reduzir o consumo de cafeína e álcool, principalmente no fim do dia.

  • Criar um ambiente escuro, silencioso e confortável no quarto.

  • Tentar acordar e dormir nos mesmos horários todos os dias, incluindo fins de semana.

Esses hábitos simples ajudam o corpo a entender que é hora de descansar e, com o tempo, promovem noites mais restauradoras.

Sono como sinal de alerta

Alterações no sono muitas vezes antecedem uma crise. Dormir pouco demais e se sentir "elétrico", com a mente acelerada, pode ser um sinal de mania a caminho. Já a vontade constante de dormir, mesmo após horas na cama, pode indicar uma fase depressiva se aproximando.

Por isso, prestar atenção nos padrões de sono pode ser uma forma de se antecipar aos episódios.

Conclusão

O sono é um dos pilares da saúde mental, especialmente para quem vive com transtorno bipolar. Cuidar do sono é cuidar do humor e da estabilidade.

Mais do que um luxo, dormir bem é um ato de autocuidado e, no caso do cérebro bipolar, é também uma ferramenta de proteção e equilíbrio.


quarta-feira, 7 de maio de 2025

Bipolaridade e relacionamentos: como afeta quem está ao redor - Relato pessoal



Viver com bipolaridade é, muitas vezes, viver num mundo interno instável e intenso. Porém, isso afeta não somente o bipolar, mas também as pessoas ao redor. Parceiros(as), familiares, amigos, colegas de trabalho também são afetados, em diferentes graus, as oscilações de humor e comportamento desta condição.

Já comentei que na minha adolescência eu vivia uma angústia e chorava sempre. Isso acontecia, geralmente, durante a aula. Eu estudei o ensino médio num colégio de tempo integral, ou seja, manhã e tarde, portanto passava mais tempo estudando do que em casa durante a semana.


Durante esses três anos, muitas vezes eu começava a chorar do nada e por consequência isso mobilizava meus colegas de classe e professores. Todos eram muito solidários comigo, acho que entendiam que eu não fazia para chamar atenção, ou pelo menos nunca demonstraram algo contrário. Sou grata por sempre terem me acolhido.


Quando saí do ensino médio, as crises de choro diminuíram e abriram espaço a uma eu estressada e cansada o tempo todo. Chegava da faculdade e me trancava no quarto, não queria falar com ninguém de casa, só com as pessoas que conhecia na internet e nem sempre estava de bom humor para lidar com eles também. Na verdade, nunca parecia que eu estava bem.


Quando minha mãe foi demitida e voltou a morar comigo e minha avó, nós duas dificilmente entrávamos em um acordo, estávamos sempre em conflito. Depois que iniciei o tratamento para bipolaridade, as coisas começaram a se acalmar, porém vez ou outra eu ainda dava uma resposta atravessada quando tava em dias poucos amigáveis. 


Nos primeiros meses do meu atual namoro também houve momentos em que meu humor oscilava, eu descontava sem querer no meu namorado. Eram coisas como ele falar algo inofensivo e eu interpretar de maneira agressiva ou chorosa.


Cansaço emocional e medo constante


Hoje que estou menos instável, sei que eram situações que não precisava virar algo maior, mas na hora nosso julgamento fica nublado. Cada vez que eu tratava alguém mal, ou que me sentia mal por algo que aconteceu devido as minhas mudanças de humor, eu sabia que tinha algo de errado, pois não acontecia dentro do meu controle.


Nós vivemos esse medo de que as pessoas vão se cansar de nós e que somos um estorvo. Lembro-me de me perguntar se aquilo era quem eu realmente era, se fazia parte da minha personalidade.


Conclusão


Relações saudáveis são possíveis, mesmo com o transtorno bipolar em cena. Mas para isso é preciso entendimento mútuo, boa comunicação e tratamento adequado.



Música de hoje: ANAVITÓRIA - Agora Eu Quero Ir

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Diferença entre bipolaridade e mudanças de humor comuns



Vivemos numa época que cada vez mais é comum o debate sobre saúde mental, o que é muito bom. Porém, a banalização de algumas expressões e mesmo o autodiagnóstico, ainda gera desinformação e atrai olhares de forma negativa.


Você já deve ter ouvido ou até dito que “Fulana é meio bipolar, troca de ideia toda hora” ou “Hoje estou meio bipolar”. Embora seja um jeito comum de se expressar, não reflete a realidade do transtorno afetivo bipolar e podem confundir comportamentos normais com uma condição clínica.


Mas afinal, qual é a diferença entre ser bipolar e ter variações normais de humor?


Intensidade e duração dos episódios


Todos nós temos dias que acordamos mais irritados, ansiosos ou tristes, e o contrário também acontece: Mais animados, felizes. Geralmente há uma causa identificável (estresse, cansaço, uma boa ou má questão financeira, questões pessoais) e passam rápido, em horas ou poucos dias.


O mesmo não se pode dizer dos episódios de depressão ou mania/hipomania. Apesar de existirem diversos gatilhos para se iniciar um episódio e seja importante evitá-los, muitas vezes eles apenas acontecem. Além disso, eles podem durar dias, semanas ou mesmo meses, são mais intensos e incapacitantes,e afetam seriamente a vida da pessoa no trabalho, nos estudos e no dia a dia.


Sintomas específicos


O transtorno bipolar não se resume a uma mudança de humor. Há episódios definidos, com características específicas:


  • Episódio depressivo: tristeza profunda, falta de energia, perda de interesse, dificuldade para dormir ou excesso de sono, culpa, pensamentos suicidas.

  • Episódio de mania: euforia, autoestima inflada, fala acelerada, impulsividade, ideias grandiosas, pouca necessidade de sono e comportamentos de risco.

  • Hipomania: semelhante à mania, mas em menos intensidade, ainda assim, fora do padrão habitual.

  • Fase mista: A pessoa pode apresentar sintomas de ambos (mania e depressão) ao mesmo tempo ou alternar rapidamente entre eles.


Esses estados não são mudanças simples de humor. Eles interferem na percepção de nós mesmos e como nos relacionamos com o mundo.


Frequência e ciclicidade


Há uma alternância entre os episódios de mania/hipomania e depressão, com períodos de estabilidade entre eles. Essas fases se repetem durante os anos, com variações de intensidade e frequência.

O que é diferente de uma sem o transtorno, onde as mudanças normalmente são reações a eventos externos e não seguem um padrão cíclico e nem duram tanto tempo.


Impacto na vida da pessoa


Outro ponto é o impacto causado pelos episódios. Oscilações comuns de humor normalmente não afetam ou têm impacto grave na rotina. O mesmo não pode ser dito sobre as fases do transtorno bipolar, onde pode levar a decisões impulsivas (gastos excessivos, términos repentinos, abandono no trabalho, crises emocionais intensas que pode até chegar a internação ou suícidio em casos mais graves.


Diagnóstico profissional


É comum que pessoas se identifiquem com alguns sintomas e achem que têm transtorno, por isso é importante consultar um psiquiatra, pois só ele pode diagnosticar se a pessoa tem ou não a condição.


Autodiagnóstico e automedicação podem ser perigosos e podem atrasar o início do tratamento correto caso precise.


Conclusão


Não banalize e procure informação de fontes confiáveis para se aprofundar no assunto, procure um médico se desconfia que tem TAB. Bipolaridade é uma condição de saúde mental que exige atenção, tratamento e respeito. Entender a diferença entre variações normais de humor e o transtorno bipolar é importante para combater o estigma que permeia a condição.


quarta-feira, 23 de abril de 2025

Diagnóstico e caminho para estabilidade - Relato pessoal



Em junho de 2017 comecei a ter uma crise depressiva profunda que quase me fez perder o semestre todo da faculdade. Consegui finalizar e como já estava “acostumada” com a fase depressiva (mesmo eu não sabendo ainda do diagnóstico de bipolaridade), achei que logo as coisas iam se acalmar e ia voltar ao “normal”.

Mas desta vez não acalmou. Passei o período de férias chorando todo dia, me sentindo um peso para minha família e uma vontade enorme de só desaparecer. E então um novo semestre começou e eu mesmo assim insisti em continuar. Achava que ia aguentar, uma hora ia passar. Sempre passava, por que agora seria diferente?


Conforme os dias passavam, mais difícil ficava de levantar e ir para a aula. Mais difícil era prestar atenção e fazer os exercícios que os professores passavam. Até que numa noite, em uma tentativa de pedir ajuda, eu saí do meu quarto aos prantos em busca da minha mãe. Precisava que ela me acalmasse, que fosse minha luz no fim do túnel. E como uma boa mãe ela me acolheu.


Decidimos procurar um psiquiatra. Contei tudo o que sentia desde a adolescência e foi quando ele me diagnosticou com transtorno bipolar. Receitou o famoso lítio e não me recordo se passou algum medicamento para depressão (me deem um desconto, faz muitos anos).


Bom, até aí tudo bem, né? Eu finalmente sabia que o que eu sentia tinha nome, que não era preguiça, má vontade ou qualquer outra coisa. Sim, tudo bem até eu pedir um atestado para trancar a faculdade. Esse homem, meus caros leitores, esse homem só faltou me xingar e xingar até a oitava geração da minha família. Tratou como frescura e só deu o atestado porque insisti. Não sabia que era possível você se especializar em algo e simplesmente negar o que seu paciente sente.


Nesse momento, minha mãe decidiu me colocar num plano de saúde. Tive que esperar pouco mais de um mês para minha primeira consulta com o novo psiquiatra, mas finalmente consegui. Esse novo médico era bem diferente do primeiro, começando que ele parou de verdade para me ouvir e quando soube que o anterior não passou o exame de lítio e ainda me tratou daquele jeito quis denunciá-lo, o que não foi possível pois eu não tinha mais o CRM (nem sabia o que era isso).


Bom, ele receitou o lítio, o exame de lítio (que agora eu sabia que precisava fazer) e mais um remédio para depressão e um tempo depois um para insônia também. Consegui “normalizar” depois de algum tempo. Infelizmente depois de uns bons meses, eu não consegui me adaptar completamente ao lítio, pois precisava tomar quatro comprimidos por dia e isso estava me fazendo mal.


Trocamos o lítio por um outro lançado a pouco tempo no mercado chamado Latuda. Isso foi na segunda metade de 2018 e segui com esse novo medicamento até início de 2020, quando precisei parar pois desenvolvi reação ao medicamento. Nisso a pandemia estourou e minha consulta foi cancelada. Só depois de meses consegui uma nova consulta, mas infelizmente o psiquiatra com quem me consultava deixou a clínica.


Só fui a uma consulta com esse novo médico e o detestei. Atendia rápido, parecia não escutar o que eu dizia. Falei que não queria lítio e ele me passou justamente ele. Decidi tentar outro e foi a mesma coisa e pior: Quando precisei pegar uma nova receita, me tratou mal.


Depois disso precisei encerrar o plano de saúde, já que na época passamos por um momento financeiro delicado. Meses depois consegui consulta na rede pública daqui da minha cidade e estou nela até hoje.


O primeiro psiquiatra passou lítio também (nesse momento eu só desisti que não ia ser ouvida), até ele sair e entrar a médica atual. Depois que meu exame de tireóide deu alterado, ela decidiu FINALMENTE trocar o lítio. Depois perguntou se eu queria voltar para ele, mas eu respondi que não e que me sinto muito melhor com ele.


E é verdade, sou outra pessoa com esse novo medicamento. Sinto-me muito mais estável, mais no controle. Mas isso é papo para outro artigo.


Conclusão


Receber o diagnóstico me trouxe alívio, eu finalmente tinha um nome e tratamento para o que sentia. Embora o caminho não tenha sido tão fácil, foi um período de autoconhecimento e continua o sendo. Hoje entendo muito mais sobre mim do que há oito anos. Também tenho muito o que agradecer àqueles que ficaram ao meu lado.


Ainda há muito o que se viver, mas um passo de cada vez.



Música de hoje: Sandy part. Tiago Iorc - Me Espera


quarta-feira, 16 de abril de 2025

O impacto da fase depressiva na rotina e na autoestima



Quem já entrou na fase depressiva, ou mesmo tem depressão, sabe como é difícil manter uma mínima rotina. É uma experiência profunda, silenciosa e muitas vezes paralisante, que afeta diretamente a rotina, os relacionamentos e, principalmente, a forma como nos enxergamos.

Tarefas simples como tomar banho, levantar da cama, responder um e-mail do trabalho, tornam-se difíceis e exaustivas. Quantas vezes já adiei compromissos, enrolei para limpar a mesa do computador, entre outras micro tarefas do dia a dia. Este texto mesmo estou fazendo na noite anterior a ser postado, mesmo tendo a semana toda para fazer.


Para quem olha de fora, parece “preguiça”, “desinteresse” ou “má vontade”. A verdade é que é um peso, te falta energia e nada parece valer o esforço. Com o tempo, a bagunça da vida externa começa a refletir ainda mais a confusão interna.


Autoestima em pedaços


Uma parte bastante cruel da fase depressiva é a constante autodepreciação e baixa autoestima. Pensamentos como: “Por que sou tão inútil?”, “Não consigo fazer nada”, “Por que eu sou assim?” ou “Nunca vou conseguir ser como as outras pessoas”, são comuns nessa fase.


Nossa mente se torna implacável e critica tudo o que fazemos e o que deixamos de fazer, e o que erramos. E o pior: essas vozes internas não soam como dúvidas, elas soam como verdades absolutas.


A falta de energia, motivação e dificuldade de realizar tarefas simples, tornam-se culpa e a culpa passa a te corroer e alimentar a depressão. O cérebro deprimido passa a se comparar com quem “parece estar bem” e reforça a ideia de fracasso pessoal.


E a cada dia em que algo não é feito, fica mais difícil acreditar no próprio valor ou capacidade. Isso forma um ciclo doloroso: a depressão enfraquece a autoestima, e a baixa autoestima alimenta a depressão.


O que antes era apenas um momento difícil começa a parecer isso é quem somos. E é aí que mora o perigo: quando deixamos de entender a fase depressiva como um episódio do transtorno e começamos a vê-la como um reflexo de quem somos. Mas ela é isso: uma fase.


Como tentar lidar com esse momento


Seja gentil consigo mesmo. Você não está assim por que quer e não adianta tentar manter o mesmo ritmo de sempre. Desacelere e reconheça que agora você está numa fase dolorosa, mas passageira.


Estabelecer microtarefas


Comece reduzindo a escala do que você pode fazer durante o dia. Coisas como: Arrumar a cama, escovar os dentes, trocar de roupa, beber água. Pode parecer pouco para quem vê de fora, mas sabemos que para quem está passando pela fase depressiva, é um esforço enorme.


Criar uma rotina mínima


Tente criar uma rotina leve, com horários para acordar, comer, tomar banho e dormir. Nosso cérebro gosta de rotina e mesmo que nem tudo seja cumprido, já traz o senso de previsibilidade.


Reduzir o isolamento, com cuidado


Tendemos a nos isolar nessa fase, mas é preciso ter alguma conexão para aliviar a sensação de solidão e abandono. Mesmo que seja só por mensagem, uma ligação ou estando no mesmo ambiente que alguém querido. Não precisa ser uma conversa profunda ou falar sobre o que está sentindo. Estar junto, mesmo em silêncio, também é presença.


Buscar apoio profissional


Terapia, acompanhamento psiquiátrico e, ou medicação são essenciais para manter as fases do transtorno bipolar minimamente estáveis. É importante não parar o tratamento por conta própria e informar o profissional responsável sobre as alterações de humor.


Se possível, deixar um “plano de crise” pronto para esses momentos, com contatos de confiança, lembretes de estratégias que já ajudaram antes, e orientações do seu profissional de saúde,  pode fazer uma grande diferença.


Tenha passatempos


Ter algo para ocupar e exercitar a mente é importante não só para quem passa pela fase depressiva. Pintura, escrever, bordado, desenho, leitura, fazer palavras cruzadas, carpintaria, etc. É bom se ocupar, ter algo que gosta.



Conclusão


Olhar para si com menos julgamento e mais acolhimento é um exercício diário e difícil, mas ajuda a reconstruir, pouco a pouco, a autoestima. Não é uma fraqueza, é uma fase que precisa de cuidado, compreensão e suporte.