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quarta-feira, 4 de junho de 2025

Como contar para amigos, família ou colegas sobre o diagnóstico



Receber a notícia que você é bipolar é um misto de alívio, medo, insegurança e vergonha. Alívio porque você finalmente tem um nome para o que vinha sentindo, medo, insegurança e vergonha por não saber como as pessoas vão reagir.

Então surgem as dúvidas: “Devo contar? Para quem? Como?”

Não existe uma resposta única, certeira, mas pode ser o primeiro passo para fortalecer vínculos e aliviar o peso do diagnóstico.


É sua escolha, é só sua


Contar ou não contar é uma decisão apenas sua. Não precisa sair contando para todo mundo. Avalie quem é de sua confiança e que vai entender a situação. O diagnóstico faz parte de você, mas não define quem você é.


Falando com a família: acolher e educar


Algumas pessoas não são bem informadas no assunto. Não é falta de amor, muitas vezes é medo ou desconhecimento.


É válido explicar o que é a bipolaridade. Esteja preparado(a) para perguntas, dúvidas e até reações confusas. Para isso também é importante você se informar mais sobre o transtorno. Você pode indicar leituras, vídeos ou até sugerir que te acompanhem em uma consulta, se se sentir confortável.


Amigos: a escolha do acolhimento


Escolha aquele(s) amigo(s) com quem você tem um grau maior de afinidade, aquele que você sabe que te acolhe e não vai fazer julgamentos. Você não precisa se justificar ou falar além do que se sente confortável. Amigos de verdade vão entender e caminhar ao seu lado.


Colegas de trabalho: precisa contar?


A resposta é não, apenas se for necessário.

Colegas de trabalho não são seus amigos, nem sua família. Eles são importantes apenas no campo profissional e você não deve satisfação a eles.


Agora, se você percebe que o seu humor está afetando seu trabalho, você pode conversar com seu gestor ou com o RH. Atenção: Alguns ambientes de trabalho são hostis. Você não é obrigado a contar nada se assim o desejar. A escolha é sempre sua.


Dicas para a hora de contar


  • Escolha um momento tranquilo, sem pressa.

  • Fale de forma simples, não técnica, se perceber que a pessoa não entende muito sobre saúde mental.

  • Foque em como você está se cuidando. Isso ajuda a pessoa a entender que existe tratamento e estabilidade.

  • Esteja preparado(a) para diferentes reações: algumas pessoas não vão saber o que dizer, outras podem surpreender com acolhimento.

  • Se sentir que não foi ouvido(a) ou acolhido(a), não se culpe. O problema não é você, é a falta de preparo do outro.


Contar alivia o peso do segredo. Ter alguém com quem contar é importante para não nos sentirmos solitários. Você merece ser cercado de acolhimento, de pessoas que o entenda.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Bipolaridade e relacionamentos: como afeta quem está ao redor - Relato pessoal



Viver com bipolaridade é, muitas vezes, viver num mundo interno instável e intenso. Porém, isso afeta não somente o bipolar, mas também as pessoas ao redor. Parceiros(as), familiares, amigos, colegas de trabalho também são afetados, em diferentes graus, as oscilações de humor e comportamento desta condição.

Já comentei que na minha adolescência eu vivia uma angústia e chorava sempre. Isso acontecia, geralmente, durante a aula. Eu estudei o ensino médio num colégio de tempo integral, ou seja, manhã e tarde, portanto passava mais tempo estudando do que em casa durante a semana.


Durante esses três anos, muitas vezes eu começava a chorar do nada e por consequência isso mobilizava meus colegas de classe e professores. Todos eram muito solidários comigo, acho que entendiam que eu não fazia para chamar atenção, ou pelo menos nunca demonstraram algo contrário. Sou grata por sempre terem me acolhido.


Quando saí do ensino médio, as crises de choro diminuíram e abriram espaço a uma eu estressada e cansada o tempo todo. Chegava da faculdade e me trancava no quarto, não queria falar com ninguém de casa, só com as pessoas que conhecia na internet e nem sempre estava de bom humor para lidar com eles também. Na verdade, nunca parecia que eu estava bem.


Quando minha mãe foi demitida e voltou a morar comigo e minha avó, nós duas dificilmente entrávamos em um acordo, estávamos sempre em conflito. Depois que iniciei o tratamento para bipolaridade, as coisas começaram a se acalmar, porém vez ou outra eu ainda dava uma resposta atravessada quando tava em dias poucos amigáveis. 


Nos primeiros meses do meu atual namoro também houve momentos em que meu humor oscilava, eu descontava sem querer no meu namorado. Eram coisas como ele falar algo inofensivo e eu interpretar de maneira agressiva ou chorosa.


Cansaço emocional e medo constante


Hoje que estou menos instável, sei que eram situações que não precisava virar algo maior, mas na hora nosso julgamento fica nublado. Cada vez que eu tratava alguém mal, ou que me sentia mal por algo que aconteceu devido as minhas mudanças de humor, eu sabia que tinha algo de errado, pois não acontecia dentro do meu controle.


Nós vivemos esse medo de que as pessoas vão se cansar de nós e que somos um estorvo. Lembro-me de me perguntar se aquilo era quem eu realmente era, se fazia parte da minha personalidade.


Conclusão


Relações saudáveis são possíveis, mesmo com o transtorno bipolar em cena. Mas para isso é preciso entendimento mútuo, boa comunicação e tratamento adequado.



Música de hoje: ANAVITÓRIA - Agora Eu Quero Ir

quarta-feira, 2 de abril de 2025

As amizades perdidas pelo caminho - Relato pessoal



Todos nós já falamos ou fizemos coisas em que bateu o arrependimento, de imediato ou não. Seja porque um dia você não está bem ou só a falta de maturidade em perceber que algo que você fazia/faz machuca o outro.


Hoje quero falar de dois casos onde perdi amizades por impulsividade e falta de tato. É importante notar que nos dois casos eu não fazia tratamento e nem sabia que tinha o transtorno bipolar e, portanto, vivia de maneira instável


Isso, claro, não me exime da culpa de que fui eu que causei as situações.


Carlos


Eu tinha esse bom amigo, que vamos chamá-lo de Carlos, o qual o via como um irmão mais novo. O conheci online, em um joguinho para computador muito famoso na época. Ele morava no mesmo estado que eu, mas como éramos muito jovens só fomos nos encontrar uma vez quando já tínhamos um tempo de amizade.


Carlos era um jovem muito tranquilo e engraçado. Conversávamos diariamente sobre muitas coisas. Também tínhamos amigos em comum, então a conversa também girava em torno deles.


Certo dia eu estava muito estressada sem motivo, provavelmente numa fase mista. Estava dando respostas ríspidas, enquanto Carlos só queria bater o mesmo papo de sempre. Numa dessas ele me pergunta “Qual o seu problema?”. Não pensei duas vezes, não medi as palavras e apenas soltei um “Gente como você”.


Bem, agora vocês estão pensando que, independente se foi culpa do TAB ou não, eu mereci o fim da amizade. Sim, eu sei, estou totalmente ciente e concordo plenamente. A impulsividade é uma faca de dois gumes: Pode dar muito certo ou muito errado. Mas olhando agora do presente eu não me arrependo de ter acabado, e sim de como acabou. Carlos e eu seguimos com visões de mundo diferentes, estávamos fadados ao distanciamento e talvez tenha sido melhor assim.


O mesmo não pode ser dito sobre o Alan.


Alan


Também conheci o Alan (nome fictício) em um jogo através de um amigo em comum. Desde o começo sempre foi meio conturbado nossa relação. Isso porque eu, como já deve ter dado para perceber, não tinha muita responsabilidade emocional, tampouco o dava o devido respeito que nossa relação pedia.


Eu estava acostumada com amigos que riam e não se importavam com meio jeito meio grosseiro. Mas Alan era diferente, era um menino sensível e não parecia entender que eu não falava para machucá-lo e sim porque era o meu jeito mesmo.


Quando há duas pessoas com personalidades tão diferentes, concessões precisam acontecer para que as coisas fiquem equilibradas e fluam.


E não aconteceu.


Alan ficou cansado e com razão. No lugar dele também ficaria. Não sei como ele está hoje em dia, mas imagino que bem já que não ouvi nada do nosso amigo em comum.


Diferente do caso do Carlos, eu gostaria de ter um momento propício para um pedido de desculpas ao Alan. Não que eu ache que não devo desculpas ao Carlos, é só que no caso dele não há o que fazer, nossas diferenças vão muito além de um assunto mal acabado de 11 anos atrás.


Carlos e Alan nunca vão ler esse texto e talvez até já tenham esquecido sobre essas situações passadas. E assim seguiremos e talvez um dia nos encontremos. Mas esse dia não é hoje.




Música que me acompanhou nesse finalzinho: Ely Eira - Monster