Um estudo de 2023 analisou diversos artigos a fim de entender a neurobiologia do cérebro bipolar e as evidências mostram que, sim, o cérebro bipolar é mesmo diferente do de uma pessoa sem o transtorno.
Eu li o estudo e vou pontuar as principais evidências e conclusões que corroboram com a afirmação.
Perfil Neuroquímico
O perfil neuroquímico se refere a um conjunto complexo de alterações de neurotransmissores, substâncias químicas produzidas pelos neurônios, que regulam o humor. No caso do TB, esse perfil é composto pela serotonina, dopamina e noradrenalina. Vamos entender o que cada um faz no cérebro bipolar.
Serotonina
Desempenha um papel essencial de regulação do humor. Sugere-se que o desequilíbrio nos níveis está associado às variações de humor vistas no transtorno bipolar. Baixos níveis estão associados a episódios depressivos, enquanto flutuações a episódios maníacos.
Dopamina
Implicada na sensação de recompensa, motivação e regulação do prazer. A dopamina pode estar associada às manifestações de episódios maníacos Níveis elevados podem contribuir para a euforia característica desses episódios.
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Noradrenalina
Papel vital na resposta ao estresse e na regulação da energia. Variações podem influenciar na regulação do sono, agitação e intensidade dos episódios, tanto nas fases depressivas, quanto nas maníacas.
Contribuições Genéticas
É uma área de intenso estudo e muito importante para compreender a neurobiologia do TB. “A neurobiologia é complexa e multifatorial, envolvendo uma interação complexa entre múltiplos genes e fatores ambientais. A combinação de diferentes variantes genéticas contribui para a diversidade de apresentações clínicas e respostas ao tratamento observadas nos indivíduos afetados.” — Diz o estudo.
Hereditariedade
Estudos sugerem fortemente a hereditariedade do transtorno. Indivíduos que têm parentes de primeiro grau com o transtorno têm um risco significativamente maior de desenvolvê-lo.
A realização de Estudos de associação genômica ampla (GWAS) permitiram examinar variantes genéticas em grandes populações, identificando diversos loci genéticos relacionados ao transtorno. Essas descobertas fornecem pistas sobre quais genes podem desempenhar um papel na genética bipolar, embora a função exata desses genes ainda precise ser totalmente compreendida.
Alterações Neuroanatômicas do Transtorno Bipolar
Estudos neuroanatômicos revelam alterações em diversas regiões cerebrais em indivíduos bipolares.
Hipocampo
Essencial para memória e regulação emocional, revela reduções volumétricas, associadas a déficits na regulação do humor;
Amígdala
Ligada às respostas emocionais, demonstra aumento de volume, correlacionando-se a intensidade de episódios maníacos e depressivos;
Córtex pré-frontal
Associado ao controle inibitório e tomada de decisões, exibe reduções volumétricas;
Anomalias na substância branca cerebral, alterações nos núcleos subcorticais (corpo caudado e putâmen) enfocam as disfunções na conectividade neural e na regulação do movimento e recompensa.
Correlações com Transtornos e Outras Comorbidades
Há uma interconexão entre o transtorno bipolar e outras comorbidades, ou seja, o bipolar não necessariamente só tem o transtorno afetivo bipolar, como pode ter outros transtornos e comorbidades.
Podem ser elas: Transtorno de ansiedade, outros transtornos de humor (ex: depressão unipolar), Transtorno do Espectro Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Controle dos Impulsos (ex:TDAH e transtorno de personalidade borderline), Doenças cardiovasculares e Substâncias e Abuso de Álcool.
A relação entre o transtorno e essas comorbidades indicam a necessidade de abordagens personalizadas que considerem a singularidade de cada indivíduo. A busca contínua pela compreensão é essencial para refinar abordagens terapêuticas, melhorar cuidados e qualidade de vida.
Papel dos Hormônios no Transtorno Bipolar
Estudos indicam que a regulação anormal do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), uma área do cérebro responsável pela liberação do hormônio cortisol, que é associado ao estresse, pode desempenhar um papel de vulnerabilidade ao TB.
A resposta do HPA a eventos estressantes pode ser exacerbada no indivíduo bipolar, levando a flutuações no nível do cortisol, afetando a instabilidade emocional.
Há um interesse crescente em saber como os hormônios sexuais estrogênio e testosterona influenciam o transtorno bipolar. Em mulheres, as variações hormonais ao longo do ciclo menstrual foram relacionadas a mudanças nos padrões de episódios.
Microbioma Intestinal e Cérebro
É conhecido que há uma relação complexa entre o microbioma intestinal e o cérebro, chamado de eixo intestino-cérebro. A disbiose, que representa um desequilíbrio no microbioma, é um fator de interesse. A interação complexa pode alterar a neuroquímica cerebral, em particular a serotonina e dopamina.
A manipulação do microbioma representa um campo emocionante e inovador, no entanto é preciso cautela e mais pesquisas para melhor compreensão da relação.
Conclusão
É notável que o nosso corpo é diferente de outros indivíduos sem o transtorno bipolar e isso se deve a uma complexa relação da nossa biologia, desde neurotransmissores, a genes, hormônios e microbioma intestinal.
Não coloquei todos os pontos abordados no estudo, apenas o que se faz mais fácil de compreender. O estudo por si só vale uma lida completa e se aprofunda muito mais na neurobiologia do transtorno bipolar para quem quiser saber mais. Deixarei abaixo o link para o estudo.
