Por vezes, quando estava em crise, me perguntava se aquela era quem eu era de verdade ou se existia algo além de toda a confusão mental. Perguntava-me se havia um “normal”, um estado em que a mania e a depressão não eram constantes. Certamente eu não sou a primeira e nem a última que já se perguntou isso.
Mas o que é ser “normal”? É ter um padrão linear, equilíbrio emocional e constância? Isso é mesmo possível para um bipolar? Perguntas que para alguns a resposta pode ser desanimadora.
Então como ser você mesmo e não se perder no descontrole? Para mim foi aceitar que o caos e o vazio fazem parte de mim, e que eu tenho que aprender a lidar com eles, descobrindo coisas que ligam um ao outro.
Por exemplo, eu escrevia bastante quando era mais nova, mas conforme fui crescendo esse hábito foi sumindo. A vontade de voltar a escrever era grande, mas faltava-me coragem para voltar, até que esse ano decidi criar o blog. Estou longe de ser uma boa escritora, mas é algo que me dá prazer.
Relembrar como era antes da bipolaridade vir à tona é difícil, mas é um exercício a ser feito em busca do autoconhecimento.
O que você sente falta de fazer, que gostaria de retomar? Ou há algo que você gostaria de começar? A depressão muitas vezes nos tira o chão e nos deixa no limbo, e quanto mais tempo passamos nela, mais fica difícil de sair. Por isso, relembrar é importante: porque faz lembrar o que nos conecta à realidade.
Não existe uma identidade falsa. Todas as nossas fases fazem parte de quem somos, até mesmo aquelas que gostaríamos de esquecer. A estabilidade pode ajudar a ver isso com mais clareza, mas aceitar essa complexidade também é um caminho de liberdade.
Em vez de buscar ser “normal”, talvez o caminho seja buscar ser autêntico. E ser autêntico, para quem vive com bipolaridade, pode significar:
Conhecer seus gatilhos e suas forças;
Respeitar seus limites, mesmo quando o mundo espera mais;
Ter coragem de dizer “não estou bem hoje”, sem culpa;
Reconhecer que sua sensibilidade, intensidade e criatividade também são dons.
Não é romantizar o transtorno, mas entender que faz parte de nós. Não existe um “normal” fixo para nós, e sim um caminho de autoconhecimento, aceitação e construção de uma identidade verdadeira.
Música de hoje: Keane - Everybody's Changing


