Em junho de 2017 comecei a ter uma crise depressiva profunda que quase me fez perder o semestre todo da faculdade. Consegui finalizar e como já estava “acostumada” com a fase depressiva (mesmo eu não sabendo ainda do diagnóstico de bipolaridade), achei que logo as coisas iam se acalmar e ia voltar ao “normal”.
Mas desta vez não acalmou. Passei o período de férias chorando todo dia, me sentindo um peso para minha família e uma vontade enorme de só desaparecer. E então um novo semestre começou e eu mesmo assim insisti em continuar. Achava que ia aguentar, uma hora ia passar. Sempre passava, por que agora seria diferente?
Conforme os dias passavam, mais difícil ficava de levantar e ir para a aula. Mais difícil era prestar atenção e fazer os exercícios que os professores passavam. Até que numa noite, em uma tentativa de pedir ajuda, eu saí do meu quarto aos prantos em busca da minha mãe. Precisava que ela me acalmasse, que fosse minha luz no fim do túnel. E como uma boa mãe ela me acolheu.
Decidimos procurar um psiquiatra. Contei tudo o que sentia desde a adolescência e foi quando ele me diagnosticou com transtorno bipolar. Receitou o famoso lítio e não me recordo se passou algum medicamento para depressão (me deem um desconto, faz muitos anos).
Bom, até aí tudo bem, né? Eu finalmente sabia que o que eu sentia tinha nome, que não era preguiça, má vontade ou qualquer outra coisa. Sim, tudo bem até eu pedir um atestado para trancar a faculdade. Esse homem, meus caros leitores, esse homem só faltou me xingar e xingar até a oitava geração da minha família. Tratou como frescura e só deu o atestado porque insisti. Não sabia que era possível você se especializar em algo e simplesmente negar o que seu paciente sente.
Nesse momento, minha mãe decidiu me colocar num plano de saúde. Tive que esperar pouco mais de um mês para minha primeira consulta com o novo psiquiatra, mas finalmente consegui. Esse novo médico era bem diferente do primeiro, começando que ele parou de verdade para me ouvir e quando soube que o anterior não passou o exame de lítio e ainda me tratou daquele jeito quis denunciá-lo, o que não foi possível pois eu não tinha mais o CRM (nem sabia o que era isso).
Bom, ele receitou o lítio, o exame de lítio (que agora eu sabia que precisava fazer) e mais um remédio para depressão e um tempo depois um para insônia também. Consegui “normalizar” depois de algum tempo. Infelizmente depois de uns bons meses, eu não consegui me adaptar completamente ao lítio, pois precisava tomar quatro comprimidos por dia e isso estava me fazendo mal.
Trocamos o lítio por um outro lançado a pouco tempo no mercado chamado Latuda. Isso foi na segunda metade de 2018 e segui com esse novo medicamento até início de 2020, quando precisei parar pois desenvolvi reação ao medicamento. Nisso a pandemia estourou e minha consulta foi cancelada. Só depois de meses consegui uma nova consulta, mas infelizmente o psiquiatra com quem me consultava deixou a clínica.
Só fui a uma consulta com esse novo médico e o detestei. Atendia rápido, parecia não escutar o que eu dizia. Falei que não queria lítio e ele me passou justamente ele. Decidi tentar outro e foi a mesma coisa e pior: Quando precisei pegar uma nova receita, me tratou mal.
Depois disso precisei encerrar o plano de saúde, já que na época passamos por um momento financeiro delicado. Meses depois consegui consulta na rede pública daqui da minha cidade e estou nela até hoje.
O primeiro psiquiatra passou lítio também (nesse momento eu só desisti que não ia ser ouvida), até ele sair e entrar a médica atual. Depois que meu exame de tireóide deu alterado, ela decidiu FINALMENTE trocar o lítio. Depois perguntou se eu queria voltar para ele, mas eu respondi que não e que me sinto muito melhor com ele.
E é verdade, sou outra pessoa com esse novo medicamento. Sinto-me muito mais estável, mais no controle. Mas isso é papo para outro artigo.
Conclusão
Receber o diagnóstico me trouxe alívio, eu finalmente tinha um nome e tratamento para o que sentia. Embora o caminho não tenha sido tão fácil, foi um período de autoconhecimento e continua o sendo. Hoje entendo muito mais sobre mim do que há oito anos. Também tenho muito o que agradecer àqueles que ficaram ao meu lado.
Ainda há muito o que se viver, mas um passo de cada vez.
Música de hoje: Sandy part. Tiago Iorc - Me Espera

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