quarta-feira, 16 de abril de 2025

O impacto da fase depressiva na rotina e na autoestima



Quem já entrou na fase depressiva, ou mesmo tem depressão, sabe como é difícil manter uma mínima rotina. É uma experiência profunda, silenciosa e muitas vezes paralisante, que afeta diretamente a rotina, os relacionamentos e, principalmente, a forma como nos enxergamos.

Tarefas simples como tomar banho, levantar da cama, responder um e-mail do trabalho, tornam-se difíceis e exaustivas. Quantas vezes já adiei compromissos, enrolei para limpar a mesa do computador, entre outras micro tarefas do dia a dia. Este texto mesmo estou fazendo na noite anterior a ser postado, mesmo tendo a semana toda para fazer.


Para quem olha de fora, parece “preguiça”, “desinteresse” ou “má vontade”. A verdade é que é um peso, te falta energia e nada parece valer o esforço. Com o tempo, a bagunça da vida externa começa a refletir ainda mais a confusão interna.


Autoestima em pedaços


Uma parte bastante cruel da fase depressiva é a constante autodepreciação e baixa autoestima. Pensamentos como: “Por que sou tão inútil?”, “Não consigo fazer nada”, “Por que eu sou assim?” ou “Nunca vou conseguir ser como as outras pessoas”, são comuns nessa fase.


Nossa mente se torna implacável e critica tudo o que fazemos e o que deixamos de fazer, e o que erramos. E o pior: essas vozes internas não soam como dúvidas, elas soam como verdades absolutas.


A falta de energia, motivação e dificuldade de realizar tarefas simples, tornam-se culpa e a culpa passa a te corroer e alimentar a depressão. O cérebro deprimido passa a se comparar com quem “parece estar bem” e reforça a ideia de fracasso pessoal.


E a cada dia em que algo não é feito, fica mais difícil acreditar no próprio valor ou capacidade. Isso forma um ciclo doloroso: a depressão enfraquece a autoestima, e a baixa autoestima alimenta a depressão.


O que antes era apenas um momento difícil começa a parecer isso é quem somos. E é aí que mora o perigo: quando deixamos de entender a fase depressiva como um episódio do transtorno e começamos a vê-la como um reflexo de quem somos. Mas ela é isso: uma fase.


Como tentar lidar com esse momento


Seja gentil consigo mesmo. Você não está assim por que quer e não adianta tentar manter o mesmo ritmo de sempre. Desacelere e reconheça que agora você está numa fase dolorosa, mas passageira.


Estabelecer microtarefas


Comece reduzindo a escala do que você pode fazer durante o dia. Coisas como: Arrumar a cama, escovar os dentes, trocar de roupa, beber água. Pode parecer pouco para quem vê de fora, mas sabemos que para quem está passando pela fase depressiva, é um esforço enorme.


Criar uma rotina mínima


Tente criar uma rotina leve, com horários para acordar, comer, tomar banho e dormir. Nosso cérebro gosta de rotina e mesmo que nem tudo seja cumprido, já traz o senso de previsibilidade.


Reduzir o isolamento, com cuidado


Tendemos a nos isolar nessa fase, mas é preciso ter alguma conexão para aliviar a sensação de solidão e abandono. Mesmo que seja só por mensagem, uma ligação ou estando no mesmo ambiente que alguém querido. Não precisa ser uma conversa profunda ou falar sobre o que está sentindo. Estar junto, mesmo em silêncio, também é presença.


Buscar apoio profissional


Terapia, acompanhamento psiquiátrico e, ou medicação são essenciais para manter as fases do transtorno bipolar minimamente estáveis. É importante não parar o tratamento por conta própria e informar o profissional responsável sobre as alterações de humor.


Se possível, deixar um “plano de crise” pronto para esses momentos, com contatos de confiança, lembretes de estratégias que já ajudaram antes, e orientações do seu profissional de saúde,  pode fazer uma grande diferença.


Tenha passatempos


Ter algo para ocupar e exercitar a mente é importante não só para quem passa pela fase depressiva. Pintura, escrever, bordado, desenho, leitura, fazer palavras cruzadas, carpintaria, etc. É bom se ocupar, ter algo que gosta.



Conclusão


Olhar para si com menos julgamento e mais acolhimento é um exercício diário e difícil, mas ajuda a reconstruir, pouco a pouco, a autoestima. Não é uma fraqueza, é uma fase que precisa de cuidado, compreensão e suporte.


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