quarta-feira, 18 de junho de 2025

A Arte como Refúgio: Como Escrever, Desenhar e Cantar Ajudam a Lidar com os Extremos Emocionais da Bipolaridade



Viver com transtorno bipolar é viver altos e baixos. De um lado a euforia, do outro, uma tristeza profunda, beirando o vazio. Muitas pessoas encontram na arte um meio de expressar as emoções contidas durante esses dois pólos.

O transtorno bipolar mexe com o nível de energia, com a intensidade emocional e com a forma de perceber o mundo. E a arte, por natureza, é expressão. Quando estamos no alto da euforia ou no fundo do poço, o que falta são palavras, espaço ou até permissão para extravasar o que sentimos.

A arte não julga, não exige explicações, nem correções. Ela acolhe. Permite que a dor seja cor, que a raiva vire som, que o vazio seja escrito. A arte pode: Reduzir o estresse; Ajudar a expressar emoções reprimidas; Melhorar o humor; Aumentar a autoestima; Reforçar o senso de identidade.

Neste artigo, quero compartilhar como escrever, desenhar, cantar, pode ser um meio de ajuda para lidar com os extremos emocionais da pessoa bipolar.


Escrever: Transformar o caos em palavras

Escrever, para quem tem bipolaridade, pode ser como organizar a bagunça interna. Quando as ideias estão rápidas demais (como na hipomania ou mania), escrever ajuda a desacelerar. Quando a depressão cala tudo, escrever pode ser uma forma de não se perder de si mesmo.

Você pode tentar:

  • Escrever diários/cadernos emocionais: não precisa ser em um diário, desses que as meninas usam. Pode ser um caderno qualquer, o importante é registrar os sentimentos sem filtro;

  • Poemas ou cartas: mesmo que nunca sejam lidos por ninguém;

  • Blog pessoal ou rede social: compartilhar sua vivência pode ajudar você e outros.

O ato de escrever permite que você visite e revisite quantas vezes quiser e comparar o que estava sentindo em cada momento da sua vida. Também pode ajudar a identificar padrões quando você está entrando em mania ou depressão.

Desenhar ou pintar: quando o corpo sente o que a mente não entende


Nem sempre temos palavras para o que sentimos e está tudo bem. A pintura ou desenho entra aqui como um meio entre o sentimento e o mundo exterior. Quando há muitos estímulos ou estamos completamente entorpecidos, pegar um lápis, caneta ou pincel pode ajudar a colocar para fora o que não conseguimos explicar.


Não é sobre ser “bom” em desenhar, é sobre usar o gesto como desabafo, um meio de se expressar:


  • Pintar cores fortes quando tudo explode por dentro;


  • Rabiscos nervosos para a raiva que não pode sair em palavras;


  • Formas suaves quando a ansiedade precisa ser acalmada.


Esse tipo de arte pode ser feito em casa, no caderno, em uma tela digital, o que importa é a sensação de alívio e liberação.


Cantar e criar músicas: dar voz ao que pulsa


A música tem uma conexão profunda com o transtorno bipolar. Não à toa, muitos artistas com esse diagnóstico expressam suas dores e delírios por meio de sons. Cantar pode ser uma forma de libertação emocional imediata.


Você pode:


  • Criar playlists para cada fase (mania, estabilidade, depressão);


  • Gravar áudios cantando ou falando sobre o que sente;


  • Compor (mesmo sem instrumento);


  • Cantar no chuveiro, na sala, no carro, onde for seguro.


O som da sua própria voz pode ser uma forma de se lembrar de que você ainda está aqui, mesmo quando tudo conturbado ou vazio.


A arte não cura o transtorno, mas pode curar partes da alma


Importante lembrar: arte não substitui medicamento, terapia ou acompanhamento profissional. Mas ela pode acompanhar o tratamento e tornar o processo muito mais leve. Pode ser o espaço em que você se reconhece, quando tudo o mais parece estranho.


Ter transtorno bipolar é conviver com extremos. A arte não anula esses extremos, mas ajuda a atravessá-los com mais gentileza. Mesmo nos dias em que tudo parece perdido, um rabisco, uma frase ou uma canção podem lembrar: você ainda está aqui.


quarta-feira, 11 de junho de 2025

Descontrole Financeiro na Fase Maníaca do Transtorno Bipolar: Entenda e Saiba Como Lidar



Lidar com o transtorno bipolar no dia a dia já é uma tarefa complicada e que requer atenção, e uma área importante é a área financeira. Isso porque durante a mania, tendemos a comprar mais de maneira compulsiva, podendo afetar até mesmo os entes queridos.

Pessoas que ainda não foram diagnosticadas com o transtorno podem passar anos entre o endividamento e a estabilidade. Muitas vezes sendo vistas como irresponsáveis ou sem controle, quando na verdade estão precisando de ajuda com uma condição clínica.


Mas por que a mania afeta o financeiro?

A fase maníaca ou de mania é uma das fases do transtorno bipolar. Nela, a pessoa costuma apresentar: Aumento de energia e euforia, ideias grandiosas (megalomania), diminuição da necessidade de sono, aumento da impulsividade e tomada de decisões arriscadas.

Durante a mania, o cérebro do bipolar está hiperestimulado. A dopamina, um dos neurotransmissores ligados à sensação de prazer e recompensa, costuma estar em níveis elevados, o que provoca um forte desejo de prazer imediato.

Esse comportamento impulsivo, muitas vezes aliado a uma autoconfiança excessiva, nos leva a decisões financeiras perigosas, fazendo com que a pessoa:

  • Compre por impulso, mesmo sem necessidade;

  • Faça empréstimos ou use cartões de crédito sem pensar nas consequências;

  • Invista em negócios arriscados, acreditando que "vai dar certo";

  • Ignore alertas e conselhos de familiares ou amigos;

  • Negue os problemas financeiros que está causando.


Como reconhecer os sinais de alerta?

É importante que saibamos identificar os sinais de que o comportamento financeiro está saindo do controle, para que assim possamos agir rápido. Preste atenção a:

  • Gastos repentinos e exagerados;

  • Compra de itens caros e/ou desnecessários (ex: eletrônicos, roupas de luxo, viagens);

  • Doações ou empréstimos impulsivos de dinheiro;

  • Criação de empresas ou projetos “milagrosos” da noite para o dia;

  • Irritação quando confrontado sobre as finanças.


Estratégias para o controle financeiro

É importante ter estratégias para quando estiver na fase maníaca, assim pode-se mitigar os possíveis danos.

  • Limite o acesso a crédito
    Reduza ou cancele cartões, estabeleça limites de saque e evite deixar dinheiro fácil de ser gasto.

  • Pague em dinheiro
    Dê preferência a pagar em cédula, assim limita-se o acesso ao dinheiro.

  • Tenha um responsável financeiro
    Em fases de estabilidade, avalie deixar contas e investimentos sob supervisão de alguém de confiança.

  • Crie alertas de gastos
    Aplicativos bancários podem ajudar a monitorar compras e emitir avisos em tempo real.

  • Evite decisões importantes durante a mania
    Assinar contratos, fazer grandes investimentos ou compras deve ser evitado nesse período.

  • Tenha um plano de crise
    Um documento com orientações para momentos de descontrole, elaborado com seu terapeuta ou psiquiatra.

  • Fique longe de lugares que te tentem
    Evite lojas físicas e online. Não deixe os dados do cartão salvo, mais uma etapa pode fazê-lo desistir da compra.

  • Priorize pagar as dívidas já feitas
    Tente manter o mínimo de dívidas e busque quitar as já existentes. Comece da menor para a maior.


Por fim, não se martirize quando fizer uma compra que não devia. Somos humanos e falhamos e falharemos no futuro, o importante é tentar e não desistir. Com consciência, tratamento e planejamento, é possível retomar o controle da sua vida financeira e emocional.


quarta-feira, 4 de junho de 2025

Como contar para amigos, família ou colegas sobre o diagnóstico



Receber a notícia que você é bipolar é um misto de alívio, medo, insegurança e vergonha. Alívio porque você finalmente tem um nome para o que vinha sentindo, medo, insegurança e vergonha por não saber como as pessoas vão reagir.

Então surgem as dúvidas: “Devo contar? Para quem? Como?”

Não existe uma resposta única, certeira, mas pode ser o primeiro passo para fortalecer vínculos e aliviar o peso do diagnóstico.


É sua escolha, é só sua


Contar ou não contar é uma decisão apenas sua. Não precisa sair contando para todo mundo. Avalie quem é de sua confiança e que vai entender a situação. O diagnóstico faz parte de você, mas não define quem você é.


Falando com a família: acolher e educar


Algumas pessoas não são bem informadas no assunto. Não é falta de amor, muitas vezes é medo ou desconhecimento.


É válido explicar o que é a bipolaridade. Esteja preparado(a) para perguntas, dúvidas e até reações confusas. Para isso também é importante você se informar mais sobre o transtorno. Você pode indicar leituras, vídeos ou até sugerir que te acompanhem em uma consulta, se se sentir confortável.


Amigos: a escolha do acolhimento


Escolha aquele(s) amigo(s) com quem você tem um grau maior de afinidade, aquele que você sabe que te acolhe e não vai fazer julgamentos. Você não precisa se justificar ou falar além do que se sente confortável. Amigos de verdade vão entender e caminhar ao seu lado.


Colegas de trabalho: precisa contar?


A resposta é não, apenas se for necessário.

Colegas de trabalho não são seus amigos, nem sua família. Eles são importantes apenas no campo profissional e você não deve satisfação a eles.


Agora, se você percebe que o seu humor está afetando seu trabalho, você pode conversar com seu gestor ou com o RH. Atenção: Alguns ambientes de trabalho são hostis. Você não é obrigado a contar nada se assim o desejar. A escolha é sempre sua.


Dicas para a hora de contar


  • Escolha um momento tranquilo, sem pressa.

  • Fale de forma simples, não técnica, se perceber que a pessoa não entende muito sobre saúde mental.

  • Foque em como você está se cuidando. Isso ajuda a pessoa a entender que existe tratamento e estabilidade.

  • Esteja preparado(a) para diferentes reações: algumas pessoas não vão saber o que dizer, outras podem surpreender com acolhimento.

  • Se sentir que não foi ouvido(a) ou acolhido(a), não se culpe. O problema não é você, é a falta de preparo do outro.


Contar alivia o peso do segredo. Ter alguém com quem contar é importante para não nos sentirmos solitários. Você merece ser cercado de acolhimento, de pessoas que o entenda.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Obesidade e Transtorno Bipolar: Uma batalha invisível - Relato pessoal



Falar sobre transtorno bipolar já não é simples, somando ao tema obesidade, torna-se ainda mais complicado. Mas é importante para mim falar, porque talvez você esteja vivendo o mesmo que eu.

Quando recebi meu diagnóstico do TB, eu não imaginei que eu teria outra batalha, que teria que conviver com a constante mudança do meu corpo. Demorei até entender que as duas coisas poderiam estar ligadas.


Remédios que ajudam, mas também pesam (literalmente)


Ao iniciar o tratamento, precisei fazer uso de estabilizadores de humor e antidepressivos. Até aí tudo bem, até que as roupas foram deixando de servir gradualmente. Isso porque alguns dos remédios que tomo/tomei alteram o metabolismo(que, diga-se de passagem, já não era tão bom). O boom de peso aconteceu mesmo de mais ou menos três anos para cá e daí foi só ladeira abaixo.


Comer para aliviar, se culpar depois


É muito comum nas fases depressivas comer para aliviar o estresse, ou porque é menos cansativo pegar algo pronto para comer (ex. biscoito e bolacha). Também a busca por microdoses de prazer é frequente (doces e massas).


Já falei aqui que minha fase predominante é a depressiva, então imaginem, eu nesse ciclo sem fim de comer muito produto industrializado, o que isso não fez com meu corpo.


E a culpa, afinal ainda estamos conscientes que o caminho que estamos tomando não é o melhor. A culpa só contribui para abaixar a nossa já então baixa autoestima, tornando-se difícil sair da fase depressiva.

Um ciclo difícil de quebrar

O problema é que ganhar peso não é só uma questão estética, é saúde física e mental. A autoestima despenca, o cansaço aumenta, a disposição some. Porém, não há como manter isso para sempre. Uma hora precisamos quebrar o ciclo ou ele vai nos quebrar.

Atualmente estou tentando me cuidar melhor, mas não é fácil manter uma rotina saudável, exercitar o corpo mesmo que de leve, só para não ficar parado. Você e eu não somos preguiçosos, fracos, desleixados. Estamos apenas tentando conciliar uma mente que nos trai com o jeito que nosso corpo achou para responder a isso.


Música de hoje: Cyn - I’ll Still Have Me


quarta-feira, 21 de maio de 2025

Você sabia que o cérebro do bipolar é diferente?



Um estudo de 2023 analisou diversos artigos a fim de entender a neurobiologia do cérebro bipolar e as evidências mostram que, sim, o cérebro bipolar é mesmo diferente do de uma pessoa sem o transtorno.

Eu li o estudo e vou pontuar as principais evidências e conclusões que corroboram com a afirmação.



Perfil Neuroquímico


O perfil neuroquímico se refere a um conjunto complexo de alterações de neurotransmissores, substâncias químicas produzidas pelos neurônios, que regulam o humor. No caso do TB, esse perfil é composto pela serotonina, dopamina e noradrenalina. Vamos entender o que cada um faz no cérebro bipolar.


  1. Serotonina

Desempenha um papel essencial de regulação do humor. Sugere-se que o desequilíbrio nos níveis está associado às variações de humor vistas no transtorno bipolar. Baixos níveis estão associados a episódios depressivos, enquanto flutuações a episódios maníacos.


  1. Dopamina

Implicada na sensação de recompensa, motivação e regulação do prazer. A dopamina pode estar associada às manifestações de episódios maníacos Níveis elevados podem contribuir para a euforia característica desses episódios.

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  1. Noradrenalina

Papel vital na resposta ao estresse e na regulação da energia. Variações podem influenciar na regulação do sono, agitação e intensidade dos episódios, tanto nas fases depressivas, quanto nas maníacas.



Contribuições Genéticas


É uma área de intenso estudo e muito importante para compreender a neurobiologia do TB. “A neurobiologia é complexa e multifatorial, envolvendo uma interação complexa entre múltiplos genes e fatores ambientais. A combinação de diferentes variantes genéticas contribui para a diversidade de apresentações clínicas e respostas ao tratamento observadas nos indivíduos afetados.” — Diz o estudo.


Hereditariedade


Estudos sugerem fortemente a hereditariedade do transtorno. Indivíduos que têm parentes de primeiro grau com o transtorno têm um risco significativamente maior de desenvolvê-lo.

A realização de Estudos de associação genômica ampla (GWAS) permitiram examinar variantes genéticas em grandes populações, identificando diversos loci genéticos relacionados ao transtorno. Essas descobertas fornecem pistas sobre quais genes podem desempenhar um papel na genética bipolar, embora a função exata desses genes ainda precise ser totalmente compreendida.


Alterações Neuroanatômicas do Transtorno Bipolar


Estudos neuroanatômicos revelam alterações em diversas regiões cerebrais em indivíduos bipolares.


  1. Hipocampo

Essencial para memória e regulação emocional, revela reduções volumétricas, associadas a déficits na regulação do humor;

  1. Amígdala

Ligada às respostas emocionais, demonstra aumento de volume, correlacionando-se a intensidade de episódios maníacos e depressivos;

  1. Córtex pré-frontal

Associado ao controle inibitório e tomada de decisões, exibe reduções volumétricas;

  1. Anomalias na substância branca cerebral, alterações nos núcleos subcorticais (corpo caudado e putâmen) enfocam as disfunções na conectividade neural e na regulação do movimento e recompensa.



Correlações com Transtornos e Outras Comorbidades


Há uma interconexão entre o transtorno bipolar e outras comorbidades, ou seja, o bipolar não necessariamente só tem o transtorno afetivo bipolar, como pode ter outros transtornos e comorbidades.


Podem ser elas: Transtorno de ansiedade, outros transtornos de humor (ex: depressão unipolar), Transtorno do Espectro Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Controle dos Impulsos (ex:TDAH e transtorno de personalidade borderline), Doenças cardiovasculares e Substâncias e Abuso de Álcool.


A relação entre o transtorno e essas comorbidades indicam a necessidade de abordagens personalizadas que considerem a singularidade de cada indivíduo. A busca contínua pela compreensão é essencial para refinar abordagens terapêuticas, melhorar cuidados e qualidade de vida.



Papel dos Hormônios no Transtorno Bipolar


Estudos indicam que a regulação anormal do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), uma área do cérebro responsável pela liberação do hormônio cortisol, que é associado ao estresse, pode desempenhar um papel de vulnerabilidade ao TB.


A resposta do HPA a eventos estressantes pode ser exacerbada no indivíduo bipolar, levando a flutuações no nível do cortisol, afetando a instabilidade emocional.


Há um interesse crescente em saber como os hormônios sexuais estrogênio e testosterona influenciam o transtorno bipolar. Em mulheres, as variações hormonais ao longo do ciclo menstrual foram relacionadas a mudanças nos padrões de episódios.



Microbioma Intestinal e Cérebro


É conhecido que há uma relação complexa entre o microbioma intestinal e o cérebro, chamado de eixo intestino-cérebro. A disbiose, que representa um desequilíbrio no microbioma, é um fator de interesse. A interação complexa pode alterar a neuroquímica cerebral, em particular a serotonina e dopamina.


A manipulação do microbioma representa um campo emocionante e inovador, no entanto é preciso cautela e mais pesquisas para melhor compreensão da relação.



Conclusão


É notável que o nosso corpo é diferente de outros indivíduos sem o transtorno bipolar e isso se deve a uma complexa relação da nossa biologia, desde neurotransmissores, a genes, hormônios e microbioma intestinal.


Não coloquei todos os pontos abordados no estudo, apenas o que se faz mais fácil de compreender. O estudo por si só vale uma lida completa e se aprofunda muito mais na neurobiologia do transtorno bipolar para quem quiser saber mais. Deixarei abaixo o link para o estudo.


Link para o estudo (basta clicar na opção PDF para baixar o artigo): https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/1166

quarta-feira, 14 de maio de 2025

A importância do sono para quem tem bipolaridade



Se existe algo que parece simples, mas que pode mudar completamente o curso de um dia, ou de uma crise, para quem tem transtorno bipolar, esse algo é o sono. Dormir bem não é apenas um hábito saudável, é uma parte fundamental do cuidado com a saúde mental, especialmente para quem vive com os altos e baixos da bipolaridade.

Sono e humor: uma ligação direta

Muitas pessoas subestimam o poder que uma noite mal dormida pode ter. Mas para quem tem transtorno bipolar, alterações no sono são um dos principais gatilhos para episódios de mania, hipomania ou depressão.

Durante a mania, é comum a pessoa sentir que precisa de poucas horas de sono ou nem dormir. Já na fase depressiva, o oposto pode acontecer: dormir demais, mas sem qualidade, ou ter insônia severa. Em ambos os casos, o desequilíbrio do sono piora o estado emocional.

Ficar acordado por muito tempo, inverter o ciclo do sono ou ter noites repetidas de sono ruim pode, em pessoas com bipolaridade, provocar ou intensificar episódios maníacos ou hipomaníacos. Isso porque a falta de descanso afeta diretamente áreas do cérebro responsáveis pela regulação das emoções, do julgamento e da impulsividade.

Muitas vezes, uma pessoa está estável há meses, mas uma sequência de noites mal dormidas, associada a estresse ou uso de substâncias, pode ser o suficiente para desencadear uma nova crise.

Sono regular é parte do tratamento

Estabelecer uma rotina de sono consistente não é um capricho, é uma necessidade terapêutica. Psiquiatras e psicólogos frequentemente recomendam horários fixos para dormir e acordar, ambientes calmos antes de dormir e até práticas de higiene do sono como parte do plano de estabilização.

Algumas orientações básicas são:

  • Evitar telas (celular, TV, computador) pelo menos 1 hora antes de dormir.

  • Reduzir o consumo de cafeína e álcool, principalmente no fim do dia.

  • Criar um ambiente escuro, silencioso e confortável no quarto.

  • Tentar acordar e dormir nos mesmos horários todos os dias, incluindo fins de semana.

Esses hábitos simples ajudam o corpo a entender que é hora de descansar e, com o tempo, promovem noites mais restauradoras.

Sono como sinal de alerta

Alterações no sono muitas vezes antecedem uma crise. Dormir pouco demais e se sentir "elétrico", com a mente acelerada, pode ser um sinal de mania a caminho. Já a vontade constante de dormir, mesmo após horas na cama, pode indicar uma fase depressiva se aproximando.

Por isso, prestar atenção nos padrões de sono pode ser uma forma de se antecipar aos episódios.

Conclusão

O sono é um dos pilares da saúde mental, especialmente para quem vive com transtorno bipolar. Cuidar do sono é cuidar do humor e da estabilidade.

Mais do que um luxo, dormir bem é um ato de autocuidado e, no caso do cérebro bipolar, é também uma ferramenta de proteção e equilíbrio.


quarta-feira, 7 de maio de 2025

Bipolaridade e relacionamentos: como afeta quem está ao redor - Relato pessoal



Viver com bipolaridade é, muitas vezes, viver num mundo interno instável e intenso. Porém, isso afeta não somente o bipolar, mas também as pessoas ao redor. Parceiros(as), familiares, amigos, colegas de trabalho também são afetados, em diferentes graus, as oscilações de humor e comportamento desta condição.

Já comentei que na minha adolescência eu vivia uma angústia e chorava sempre. Isso acontecia, geralmente, durante a aula. Eu estudei o ensino médio num colégio de tempo integral, ou seja, manhã e tarde, portanto passava mais tempo estudando do que em casa durante a semana.


Durante esses três anos, muitas vezes eu começava a chorar do nada e por consequência isso mobilizava meus colegas de classe e professores. Todos eram muito solidários comigo, acho que entendiam que eu não fazia para chamar atenção, ou pelo menos nunca demonstraram algo contrário. Sou grata por sempre terem me acolhido.


Quando saí do ensino médio, as crises de choro diminuíram e abriram espaço a uma eu estressada e cansada o tempo todo. Chegava da faculdade e me trancava no quarto, não queria falar com ninguém de casa, só com as pessoas que conhecia na internet e nem sempre estava de bom humor para lidar com eles também. Na verdade, nunca parecia que eu estava bem.


Quando minha mãe foi demitida e voltou a morar comigo e minha avó, nós duas dificilmente entrávamos em um acordo, estávamos sempre em conflito. Depois que iniciei o tratamento para bipolaridade, as coisas começaram a se acalmar, porém vez ou outra eu ainda dava uma resposta atravessada quando tava em dias poucos amigáveis. 


Nos primeiros meses do meu atual namoro também houve momentos em que meu humor oscilava, eu descontava sem querer no meu namorado. Eram coisas como ele falar algo inofensivo e eu interpretar de maneira agressiva ou chorosa.


Cansaço emocional e medo constante


Hoje que estou menos instável, sei que eram situações que não precisava virar algo maior, mas na hora nosso julgamento fica nublado. Cada vez que eu tratava alguém mal, ou que me sentia mal por algo que aconteceu devido as minhas mudanças de humor, eu sabia que tinha algo de errado, pois não acontecia dentro do meu controle.


Nós vivemos esse medo de que as pessoas vão se cansar de nós e que somos um estorvo. Lembro-me de me perguntar se aquilo era quem eu realmente era, se fazia parte da minha personalidade.


Conclusão


Relações saudáveis são possíveis, mesmo com o transtorno bipolar em cena. Mas para isso é preciso entendimento mútuo, boa comunicação e tratamento adequado.



Música de hoje: ANAVITÓRIA - Agora Eu Quero Ir